quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sasnta Teresa de Jesus - Doutora da Igreja


Diante da Estátua

 

      Teresa já atingira os quarenta anos, quando fez a experiência de um acontecimento ordinário-extraordinário. Num fim de tarde, estava se dirigindo para a ampla cela, quando inadvertidamente deu com uma Estátua colocada ao longo da parede, que ainda hoje se venera no Convento. A Estátua representa Cristo na Coluna, no momento em que é flagelado pelos algozes. Imagens são criações de pintores ou escultores e podem ser contempladas primeiramente sob um ângulo artístico. Porém, nisto ainda não se esgota todo o seu significado, visto que as imagens sempre contêm uma mensagem. As imagens possuem uma linguagem, muitas vezes, até uma linguagem muito insistente, que, não raro, é mais vigorosa do que muitos sermões mornos. Por isso, todo o movimento iconoclasta, destruidor de imagens, é, em princípio, errado. Imagem e palavra se completam reciprocamente: formam um todo e não podem ser separadas. Teresa também fez esta experiência. Pensativa, parou diante da Estátua, contemplando-a profundamente. O Senhor coberto de tantas Chagas, inundado de Sangue, padecia as Dores sem soltar gritos. Porém, não devemos contemplar a cena com o sentimento lânguido que diz: “A representação é realista demais: prefiro cenas mais amenas !”. Seja como for, Teresa já vira imagens semelhantes; sem refletir muito, passara indiferente diante delas.

       Agora, porém, como sob uma Ordem Superior, parou diante da Estátua, descobriu como o Sangue escorria pelo Corpo de Cristo e os tormentos que o Homem das Dores tinha de suportar. Subjugada pela contemplação da cena, dobrou os joelhos e caiu banhada em lágrimas. Este foi um momento decisivo na Vida de Teresa. Apesar de todos os desejos de dissipação, ainda não estava tão embotada que não fosse mais capaz de vivenciar de maneira real essa irrupção elementar em toda sua realidade.   Confusa, Teresa, quarentona, sentiu a indignidade de sua existência no Convento mundanizado e sua piedade medíocre. O Senhor sofreu, e ela se entregava a conversas frívolas; Cristo

se humilhou, e ela corria atrás de novidades. Este contraste irreconciliável golpeou-a como uma martelada. E um arrependimento, como até então nunca sentira, fez estremecer-lhe o coração. Toda a sua Vida de Monja passou-lhe subitamente diante dos olhos, num instante, como uma farsa única, uma franca ofensa a Deus.

            Esta experiência diante da Estátua não foi apenas uma intuição artística; foi muito mais ! Foi uma Experiência Religiosa, para a qual se achava inteiramente desprevenida. Pela primeira vez na sua Vida, Cristo se encontrou realmente com ela. Não em forma de piedosa representação ou de um espetáculo edificante, mas numa comovente realidade. Viu-se frente à frente com Ele, sem poder esquivar-se. É possível que alguém participe, durante vinte anos, do Canto do Coro  e da Liturgia sem ter a mínima idéia de Cristo? Teresa é uma prova disso. Chegara o momento em que o Senhor lhe veio ao encontro e a fez dobrar os joelhos. Com uma autoridade sem par, o Senhor a prostrara no chão. Uma mão superior aniquilara a Alma de Teresa, sem que pessoa alguma tivesse dado um motivo, um estímulo para isto.

            O surpreendente encontro com Cristo teve amplas conseqüências. De golpe,Teresa põe termo à sua existência frívola. Nunca mais bisbilhotou no Locutório, nunca mais vacilou entre Convento e mundo. Tudo terminara definitivamente. A mudança de Teresa foi fulminante. O que havia acontecido antes não tinha importância; e o que se seguiu depois, é o acontecimento pelo qual falamos hoje de Teresa. A Estátua foi sua Experiência de Damasco. Não obstante, foi apenas o primeiro passo de uma evolução extraordinária. Teresa encontrou o Caminho; e encontrar o Caminho significa encontrar Deus. E ela continuou a trilhar este Caminho até o fim de sua Vida e não se deixou desconcertar por pessoa alguma. Agora suas qualidades, coragem e firmeza vieram novamente à tona e fizeram dela aquela mulher extraordinária, de que não consegue mais desprender-se quem uma vez compreendeu seu ser profundo.
 
             Teresa tornou-se, daí em diante, a Monja diligente, atenta, de quem nunca mais se pode dizer: “Iniciou bem, mas vacilou na caminhada”. Seu pensamento principal rezava assim: assegura que se tratava de uma Dor Espiritual, se bem que o corpo também participasse dela. Bernini tentou -representar a experiência com sua arte numa célebre escultura. O valor da obra de Bernini consiste na tentativa de dar expressão, simultaneamente, ao gozo e à dor; porém, o Anjo, com olhar apaixonado, apresenta demasiadamente a figura de um anjinho para ser autêntico. Antes de tudo é preciso que não nos deixemos seduzir pela obra de arte, pra que não nos faça crer que Teresa se encontrou continuamente em estado de Êxtase. Ela não só conheceu outros dias como também outros atos. A tentativa de verificar o ferimento na Relíquia do Coração por uma equipe médica, como o fez no século passado uma priora, visa apenas a substituir o caminho da Fé pelo caminho da demonstração científica. Esta certamente não estava na mente de Teresa. Ela relata seus Êxtases na linguagem  Cristã, que pertence ao campo mais original da experiência e não tem nada a ver com demonstração científica posterior, sobretudo por não se tratar, segundo a sua afirmação, de uma ferida corporal.
            Para Teresa, esses encontros com os Anjos significavam que Cristo se achava imediatamente a seu lado, embora não lhe fosse dado vê-lo com os olhos do corpo. Nos Êxtases, o Senhor lhe falava silenciosamente e ela se sentia atingida por seu olhar. Teresa sentia Deus presente em si mesma e julgava que, se quisesse falar sobre esse assunto, seria “falar árabe” aos seus ouvintes; não entenderiam coisa alguma.

 
Cristo Padecente. Estátua no Convento da Encarnação em Ávila. Contemplando este "Cristo gravemente ferido", Teresa provavelmente experimentou, no ano de 1554, sua "Conversão" definitiva, começando a sentir em si vivamente a presença de Deus. 

            Certa vez, durante um êxtase, Teresa ouviu as seguintes palavras:  “Quero que doravante não te entretenhas mais com pessoas humanas, mas com Anjos !”. No primeiro momento, temos a impressão de não termos lido corretamente; mas estas palavras se acham escritas, preto sobre branco, no seu Livro da Vida. Que diferença entre as conversações havidas no locutório e as falas com os Anjos ! O que o Antigo e o Novo Testamentos relatam sobre falas com  Anjos, Teresa o experimentou, embora nunca tenha revelado algo sobre o conteúdo dessas conversas. O homem moderno perdeu esta experiência por causa de sua incapacidade religiosa e, conseqüentemente, também nega simplesmente toda dimensão do Além. Não obstante, existe o Mundo dos Anjos, que nos pode ser restituído a qualquer momento. Seja como for, Teresa mantinha relações com os Mensageiros de Deus. Ela cria firmemente que o seu Anjo da Guarda a acompanhava constantemente e que lhe era dado falar com ele e, se quisesse, até tocá-lo.

            Cumpre que façamos o relato mais pormenorizado de um êxtase: Teresa viu a presença de um Anjo, que parecia estar de pé, em chamas, e viu “nas mãos do Anjo que me apareceu, um dardo  de ouro; parecia-me que na ponta de ferro havia um pouco de fogo. Tive a impressão de que me transpassava algumas vezes com o dardo o coração até o mais íntimo, e quando o tirava, parecia-me estar arrancando também esta parte íntima do coração. E quando me deixava, sentia-me inteiramente inflamada de ardente Amor a Deus. A dor dessa ferida era tão intensa que me arrancava os mencionados gemidos e queixas; mas também o enlevo que essa dor indizível produzia era tão efusivo que não me era possível ficar livre dele, nem me podia contentar com Algo que não fosse menos que Deus”.

            É difícil comentar a Transverberação do Coração, por que se trata de uma das experiências místicas mais grandiosas de todos os tempos. O acontecimento único, incompreensível, mostra que Anjo e Coração não podem ser separados e que o Mensageiro Celeste penetra as profundezas mais recônditas do ser humano. Percebemos o Anjo com o Coração e jamais com a Inteligência. Teresa

“Começamos agora; esforçai-vos sempre por começar de novo”. Na realização do constante renovamento está o segredo da Vida de Teresa. Na verdade, o segredo de toda Vitalidade Religiosa é começar a cada dia.
 
 


26 de agosto

 
Transverberação do Coração
 
de Santa Teresa de Jesus,
 
Nossa Mãe
 
 
Transverberar
 
“Transverberar: Verbo. Do Latim – transverberare
1.    Transitivo direto: coar ou deixar passar ( cor, luz, som,etc). Ex.: As frestas do casebre transverberavam o clarão pálido do luar.
2.    Transitivo indireto: transpassar um meio: reverberar, transluzir. Ex.: A luz transverberava através das frestas ( ou pelas frestas ).
3.    Transitivo indireto: derivar, partir. Ex.: Banha-o a luz que transverberava do firmamento.
4.    Pronominal: espelhar-se, manifestar-se, refletir-se. Ex.: Transverberava-se-lhe nos olhos a nobreza da Alma.
5.    Transitivo direto: manifestar, mostrar, revelar. Ex.: Seu permanente sorriso transverbera sua gentileza.
Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – Barsa.
Oração: Deus Onipotente, com o fogo de Vosso Amor, abrasastes, de modo admirável, Santa Teresa, Nossa Mãe, fortalecendo-a para assumir árduas tarefas em prol do Vosso Nome. Concedei-nos, por sua intercessão, sentir intimamente a força do Vosso Amor, o qual nos leve sempre a trabalhar por Vós com generosidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na Unidade do Espírito Santo.
“Entre as virtudes de Teresa, ocupa lugar eminente o Amor de Deus que, o próprio Jesus nela infundiu, através de muitas visões e revelações. Duma feita, fê-la sua esposa; em outra ocasião, Teresa viu um Anjo que lhe transverberava o coração com um dardo de fogo. Por estes Dons Celestes, a Chama do Divino Amor ateou-se tão ardentemente nela, que emitiu Voto de fazer sempre o que acreditasse ser mais perfeito, o que desse maior Glória a Deus”. ( Gregório XV, Bula de Canonização ).
 



Um Anjo transpassa o coração de Teresa
com o Dardo ardente do Amor Divino ( Transverberação ). 
Retábulo ( 1646 ), de Lorenzo Bernini,
                                       Roma, Santa Maria dela Vittoria.                             
Livro: Teresa de Ávila.
Texto: Walter Nigg - Fotografia: Helmuth Nils Loose. 
 

Postal
Relicário com o coração de
Santa Teresa  na Igreja do Convento de Alba de Tormes.



terça-feira, 7 de abril de 2015

Seqüência.


 
 
 
Espírito de Deus
enviai do Céu
um raio de Luz.
 
Pai dos miseráveis,
vossos Dons afáveis
dai aos Corações.
 
Consolo que acalma,
hóspeda da Alma,
doce alívio vinde !
 
No labor descanso,
na aflição remanso
no calor aragem.
 
Enchei, Luz bendita,
chama que crepita,
o íntimo de nós !
 
Sem a Luz que acode,
nada o homem pode,
nenhum bem há nele.
 
Ao sujo lavai,
ao seco regai,
curai o doente.
 
Dobrai o que é duro,
guiai-nos no escuro,
o frio aquecei.
 
Dai à vossa Igreja,
que espera e deseja,
vossos Sete Dons.
 
Sai em prêmio ao forte,
uma santa morte,
alegria eterna.